O episódio da indicação do novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), coloca em evidência o poder de veto que a bancada evangélica vem exercendo sobre o Executivo.
Rodriguez foi escolhido após os religiosos terem rechaçado o nome de Mozart Neves Ramos – ex-secretário de Educação no Governo de Pernambuco. O motivo para descartar Mozart – hoje diretor do Instituto Ayrton Senna – não se deveu as suas referências na área – que são muitas e boas -, mas à sua posição contrária a propostas como o projeto Escola Sem Partido, que vem tramitando na Câmara dos Deputados há anos, mas que, graças ao peso que a Bancada Evangélica ganhou com a ascensão do capitão reformado, poderá ser votada na próxima semana por uma comissão especial criada para analisar o tema.
O cientista político André Costa avalia que, desde a redemocratização, este é o momento mais sensível de recrudescimento de direito e da perda da laicidade do Estado. “A ascensão evangélica que é fundamentalista e o veto ao nome de Mozart, que é um liberal, para colocar uma pessoa alinhada, como Rodríguez, é exemplo disso. Este é um momento extremamente delicado para as políticas democráticas. Bolsonaro estava tão comprometido que ficou refém do discurso de campanha”, avalia.
O peso do evangélico na política ganha força, também, à medida que partidos de perfil religioso, como PSC e PRB, se projetam no Congresso e nos estados. Para além disso, a força se assenta na capilaridade que as igrejas – especialmente as neopentecostais – dão ao discurso conservador.
No Congresso Nacional, a Frente Parlamentar Evangélica conta, oficialmente, com 198 deputados signatários e apenas quatro senadores. O conjunto vem crescendo, ao longo dos últimos anos, à medida que a população também passa a se identificar com o protestantismo, em detrimento do ainda majoritário catolicismo, que perde aderência.
Cunha
A influência do bloco não é novidade, vem sendo construída durante toda a redemocratização, num crescente. Ela ganhou expressão, em 2015, com a passagem do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) pela presidência da Câmara dos Deputados, que inseriu na pauta temas conservadores, como a redução da maioridade penal e a Escola Sem Partido.