A Tradição das Feiras Livres em Petrolina

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Por: Afonso Lima

Apesar do tempo e das cidades se modernizarem, as feiras livres continuaram sendo um espaço de socialização e lazer para muitas pessoas. Ontem foi celebrado o Dia Municipal do Feirante, a Prefeitura Municipal prestou algumas homenagens pelas comemorações do Dia, alguns vereadores também parabenizaram.

Falando da tradição das feiras livres de Petrolina, da modernização da infraestrutura física, onde as feiras livres da Areia Branca e Cohab Massangano se transformaram em Mercados Públicos, quero mostrar a vocês o crescimento através dos tempos. Vou transcrever uma matéria, publicada em 27 de fevereiro de 2012.

Há 55 anos, Germana dos Santos Passos, Dona Mana para os mais chegados, vende beiju nas feiras de Petrolina. A feirante de 72 anos aprendeu a fazer a iguaria ainda criança, quando acompanhava a mãe e a tia na antiga feira petrolinense, que era situada na Avenida Souza Filho, área central da cidade. “Sempre vendi tapioca. Comecei com apenas 10 anos de idade, quando vinha só ajudar minha mãe, criei os meus dois filhos vendendo tapioca na feira”, diz a vendedora satisfeita.

As feiras existem no Brasil desde o período colonial e, ainda hoje, se configuram como um local de encontro e diversão. Há quem se encante indo ao local e vendo toda aquela movimentação de pessoas, a gritaria dos feirantes ao dizer que seu preço é o mais baixo e seu produto o de maior qualidade, clientes pechinchando tudo o que colocam em sua cesta de compras. Muitas vezes, os compradores já têm sua barraca preferida e se tornam mais amigos que fregueses dos feirantes. É comum ver também pessoas de uma mesma família vendendo juntos. Assim, nessa verdadeira confusão onde tudo parece dar certo, que as feiras conseguiram não se extinguir mesmo diante da modernização das cidades.

Atualmente, Petrolina conta com nove feiras livres espalhadas pelos bairros da cidade assim como na zona rural. No entanto, tudo começou com poucas barracas que vendiam produtos produzidos pelos próprios feirantes, como a venda de animais ainda vivos, muitas vezes trazidos para comercialização por encomenda além dos petiscos que ainda hoje, como a Dona Mana conta orgulhosa, enchem os olhos e a barriga de muita gente.

Durante a primeira metade do século XX, Petrolina ainda era uma pequena cidade do interior de Pernambuco com pouco mais de 6 mil habitantes. Segundo o historiador Euvaldo Aragão, embora o comércio fosse relativamente significativo, o da sua vizinha Juazeiro era bem maior, fazendo com que através das feiras5 livres, realizadas às segundas-feiras, o fluxo comercial se desenvolvesse e contribuísse para o crescimento do município.

Por volta da década de 1920 até meados dos anos 1965/1970, essas feiras ocorriam na Avenida Souza Filho, em paralelo com a atual Avenida Guararapes. Mesmo com poucas barracas, porém proporcional ao número de moradores da época, o fluxo comercial era intenso, pois Petrolina recebia compradores de várias cidades vizinhas que, até então, eram apenas povoados e distritos.

A dona de casa, Geralda de Aquino de 63 anos, ainda guarda em suas memórias dos dias em que saía com o pai pela antiga feira petrolinense. Segundo Geralda, a feira por sua simplicidade fazia com que muita gente se sentisse atraída por ela. O lugar onde as pessoas iam comprar o que comer durante a semana, se tornava um ponto de encontro para falar da vida e rever amigos “Lembro-me de muitas coisas boas da antiga feira. A gente sabia que tudo ali era natural, hoje muito do que a gente come já vem ‘cheio de veneno’, sem falar que as coisas em relação à segurança eram bem mais tranquilas”, conta.

Na feira da época, a forma com que se mediam as quantidades dos produtos era diferente das atuais. Por não haver balança, os alimentos não eram vendidos no quilo, mas através de uma espécie de cubo de madeira conhecido como “prato”. O feirante enchia o objeto daquilo que vendia, passava a mão a fim de nivelar com a superfície e então se tinha o prato. Na vendagem ainda podia se escolher entre o meio prato e o caneco, que era ¼ dessa medida. E ainda, segundo Euvaldo Aragão, esse hábito só veio se extinguir depois de muito tempo, com o uso da balança.

Com o desenvolvimento de Petrolina, houve a necessidade da feira ser deslocada do centro da cidade para a abertura de novos pontos comerciais e de serviços. Em 1970, sob a administração do então prefeito Simão Amorim, foi construído o Mercado Municipal, localizado próximo à subida da ponte Presidente Dutra. Nessa época, a cidade já crescia bastante e consequentemente, o comércio e a feira também.

Até a conclusão das obras, os consumidores se dividiam entre a feira livre da Av. Souza Filho e os espaços já construídos do mercado. No ano de 1982, a feira livre foi deslocada para o Centro de Apoio Aos Pequenos Empreendimentos de Pernambuco (CEAPE), onde existe até os dias atuais, e foi através dessa transferência que grupos de feirantes, vendo o desenvolvimento da cidade, e observando a possibilidade de montar um espaço de feira livre nos bairros em que viviam, começaram a montar suas barracas em alguns pontos. O primeiro foi o Ouro Preto.

Petrolina e suas atuais feiras livres – A feira do bairro Ouro Preto passou a ser realizada aos domingos. O marchante Geraldo Eduardo da Silva, conhecido como Seu Josa pelos seus clientes, conta da época em que não existiam tantas feiras. Os bairros Cohab Massangano e São Gonçalo ainda eram pequenos, fazendo com que a feira do Ouro Preto fosse a mais importante. “O período era tão bom que costumávamos dizer ‘esse aqui é nosso ourinho preto, essa é que é a feira’”, destaca. O comércio nesse momento estava em expansão e foi a partir daí que foram formadas a feira nos bairros Cohab Massangano, aos sábados, e São Gonçalo aos domingos.

Mesmo sendo a mais recente da cidade, a feira do bairro Areia Branca é hoje a que alcança a maior quantidade de pessoas. Por ser a mais central, ela apresenta um fluxo comercial mais alto que os das demais.

Em Petrolina a coordenação das feiras livres é feita através da parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e da Empresa Petrolinense de Abastecimento (EMPA), sob a direção do diretor Edilson Coelho. Edilson relata algumas dificuldades que a secretaria enfrenta “Nossa maior dificuldade na padronização das barracas, além do maior controle nos cuidados em relação à higiene, é o de mudar o feirante do seu ponto comercial. Muitos deles acreditam que ao serem deslocados do lugar onde sempre comercializavam, podem perder a clientela fiel” declara.

A SDR tem promovido cursos preparatórios para os feirantes, como o curso de práticas de manipulação de alimentos e higienização do ambiente de trabalho. Seu Josa participou de um curso sobre higienização de alimentos. O que aprendeu foi importante pela sua adaptação às normas da Vigilância Sanitária. “Logo quando a Vigilância começou a ‘pegar no nosso pé’ foi muito complicado eles condenavam muitas coisas que para a gente não era condenável. Mas vimos que era realmente certo, porque muitas vezes o animal não era sadio para ser vendido” ressaltou.

Assim, a tradição das feiras em Petrolina não foi extinta com o tempo. Ela é uma fonte de renda para muita gente e, com o crescimento da cidade, ela pode de desenvolver também. A estrutura física melhorou bastante com o passar do tempo, porém, em sua essência, ela continua a preservar a simplicidade que lhe é característica.

Eu moro há mais de 30 anos aqui no bairro de Areia Branca, e tenho o hábito de todos os domingos de manhã ir na feira tomar café, e conversar com alguns amigos feirantes que fiz ao longo dos anos, hoje sábado, fiz questão de ir parabenizá-los e dar um abraço.

Receba também os meus parabéns e um fraterno abraço o amigo tricolor e secretário de Agricultura, Pedro Brandão, e o amigo gerente das feiras livre Tony César!

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