Falta de mobilidade, assédio para ofertas de consignados, isolamento. A violência contra os idosos do campo assume múltiplas faces e foi tema de uma audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa, nesta quarta. A negligência com os cuidados e a dificuldade para acessar serviços de saúde e assistência foram queixas acrescentadas por Admilson Nunis, diretor de Políticas para a Terceira Idade da Fetape, Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Pernambuco. “Muitas vezes na Zona Rural tem que se deslocar 100, 200 quilômetros para chegar na sede do município, e lá muitas vezes não é atendido naquele dia e tem que retornar para vir pra outro dia, então isso são casos que vêm afetando com muita força a nossa terceira idade, os nossos idosos e idosas.”
Ele propôs criar uma estrutura de assistência em cada município, que também possa sensibilizar a população fora da capital. O Brasil registrou aumento de 38% nas queixas de violência contra vítimas idosas, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos que compararam o primeiro semestre deste ano com o mesmo período do ano passado. O dado foi trazido pela deputada Dani Portela, do PSOL, que presidiu a audiência. Pernambuco obteve o terceiro pior resultado, com crescimento de 90%. A parlamentar defendeu uma maior fiscalização dos direitos contidos no Estatuto do Idoso, e também do cumprimento de medidas como o regulamento da Federação Brasileira de Bancos sobre a proteção de consumidores idosos.
No interior, onde faltam canais de denúncia, o aumento das ocorrências deve ter sido ainda maior, na avaliação de Margarida Santos, presidente do Conselho Estadual da Pessoa Idosa. Ela também denunciou a violência no transporte público, porque as empresas de ônibus não aceitam a carteira de identidade nos deslocamentos intermunicipais. “O Estatuto do Idoso em seu artigo 39 diz que o idoso tem direito a transporte público, não está dizendo se é na metade do caminho, no começo ou entre uma cidade e outra, transporte público gratuitamente e só precisa a carteira de identidade.”
A importância da renda da pessoa idosa nas pequenas cidades se reflete no comércio local, mas não gera o reconhecimento de direitos, na opinião do agrônomo Flávio Duarte. Ele deu como exemplo produtos que ficam mais caros nos dias de pagamento das aposentadorias, e lojas que abrem apenas nessas datas. Eugênia Cavalcanti, do Conselho Estadual de Saúde, chamou atenção para o alto índice de agressões contra idosos praticadas por pessoas da família, em um contexto muito ligado ao machismo. Patrícia Caetano, representando a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, disse que o momento é de reestruturar políticas públicas e destacou o papel do diálogo que tem acontecido entre as instituições e os níveis de governo. A Amupe, Associação Municipalista de Pernambuco, e o Sindicato dos Bancários também participaram do debate.