O comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, decidiu que este ano não vai haver leitura da Ordem do Dia alusiva ao dia 31 de março, aniversário do golpe militar no Brasil.
A decisão, segundo fontes da caserna, se deve a uma interpretação do comandante de que “o normal era não existir”. A informação é do portal UOL.
Após o fim da ditadura (1985), a mensagem continuou a ser lida em quartéis e divulgada à sociedade, mas em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a Ordem do Dia foi cancelada.
Nos dois primeiros mandatos do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010) só houve divulgação de Ordens do Dia em 2004, 2005 e 2006.
No período de Dilma Rousseff (PT), que tem uma relação conturbada com os militares, por ter sido torturada quando era militante, não houve a leitura da mensagem.
No governo de Michel Temer (MDB), que tinha uma boa relação com a caserna, também não há registros de leitura da Ordem do Dia.
A mensagem de aniversário do golpe, no entanto, foi retomada no primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro (PL), em 2019.
O então porta-voz de Bolsonaro, general Otávio Rêgo Barros, chegou a dizer que o presidente determinou “ao Ministério da Defesa que faça as comemorações devidas com relação ao 31 de março de 1964, incluindo a ordem do dia, patrocinada pelo Ministério da Defesa, que já foi aprovada pelo nosso presidente”.
Ao justificar a retomada da Ordem do Dia de 31 de março por Bolsonaro, fontes do Exército alegam que ela voltou por ordem do então “Chefe Supremo das Forças Armadas”, mas admitem que representava o ideário político daquele governo, que sempre exaltou a época da ditadura.
Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que substituiu o general Júlio César Arruda, demitido pelo presidente Lula depois de 20 dias no cargo, tem dito aos seus subordinados que o momento é de “retomada da confiança” e busca de pacificação. A decisão, portanto, seria um aceno ao governo do petista.
Paiva tentou minimizar à cúpula do Exército o áudio vazado e revelado esta semana pelo podcast Roteirices, no qual diz que “infelizmente, o presidente Lula foi eleito”.
De acordo com o UOL, Tomás Paiva reiterou que a ideia principal de sua mensagem era reforçar a aceitação do resultado eleitoral e tentar afastar os militares da política.
Nos bastidores, o comandante fez chegar ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que não haveria resistência na cúpula do Exército às investigações de militares envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro.
